“Processo” tornou-se um termo mal visto, sinonimo de burocratico (confesso que eu sou uma dessas pessoas que via “processos” como um entrave ao desenvolvimento), mas usar um processo de design de produto testado e comprovado ao projetar produtos é uma maneira de obter melhores resultados.
O processo, quando aplicado da maneira correta, é a melhor maneira de liberar criatividade, avançar rapidamente os resultados e levar os stakeholders em uma jornada. O processo é uma ótima maneira de permitir que você se apoie nos “ombros de gigantes”, oferecendo uma maneira de obter insights das lições aprendidas por outros.
Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes.
Isaac Newton
Se, como eu, você preferir se apoiar sobre os ombros de gigantes em vez de aprender novamente as lições, convém aplicar os melhores processos existentes, em vez de criar seus próprios. Mas com a infinidade de processos de design de produto à sua escolha, parte do desafio é encontrar o caminho certo para a sua situação, sua equipe e sua organização.
Este artigo é sobre como dar um ponto de partida para restringir os processos de design de produto ideal para você e sua equipe, para a oportunidade ou o problema com o qual está lutando agora. Digo agora porque sou um grande fã de flexibilidade, adaptando o processo certo à situação certa, em vez de uma aplicação geral de um processo unico a tudo.
Para nos ajudar a restringir os melhores processos de design de produto a usar, vamos primeiro à pesquisa do Google para nos ajudar a identificar os processos com mais interesse (sim, eu sei, popularidade nem sempre é igual à qualidade, mas precisamos começar em algum lugar).
Processos de Design de Produto por Interesse
O Google Search Trends nos diz que os processos de design com maior interesse são (na ordem do volume de pesquisa):
- Design Thinking
- Google Design Sprint
- Double Diamond (Diamante duplo)
- Processo de Design da Zurb
1. Design Thinking
Design Thinking é um processo ou conjunto de processos para projetar conceitos como novos produtos, edifícios e máquinas. Tornou-se estreitamente associado à inovação e à criação de produtos e serviços inovadores.
O Design Thinking, especialmente quando combinado com o design centrado no ser humano, é sobre começar com o ser humano no final (ou no meio) do seu produto, desenvolvendo empatia com ele, entendendo-o e trabalhando com soluções para seus problemas através de experimentação contínua.
O processo de Design Thinking tem as seguintes etapas no modelo proposto pelo Instituto de Design Hasso-Plattner em Stanford (d.school – universidade líder no ensino de Design Thinking)
- Empatizar – pesquise as necessidades de seus usuários. O primeiro estágio do processo de Design Thinking permite obter uma compreensão empática do problema que você está tentando resolver, geralmente por meio de pesquisas com usuários. A empatia é crucial para um processo de design centrado no ser humano, pois permite que você anule suas próprias suposições sobre o mundo e obtenha informações reais sobre os usuários e suas necessidades.
- Definir – Informar as necessidades e os problemas de seus usuários. Nesse estágio você acumula as informações criadas e coletadas durante o estágio “Empatizar”. Você analisa suas observações e as sintetiza para definir os principais problemas que você e sua equipe identificaram até agora. Você deve sempre tentar definir a declaração do problema de maneira centrada no ser humano ao fazer isso.
- Idealizar – desafie suposições e crie idéias. Os designers estão prontos para gerar idéias à medida que atingem o terceiro estágio do Design Thinking. O sólido conhecimento de base das duas primeiras fases significa que você pode começar a “pensar fora da caixa”, procurar maneiras alternativas de visualizar o problema e identificar soluções inovadoras para a declaração do problema que você criou.
- Prototipar – comece a criar soluções. Esta é uma fase experimental, e o objetivo é identificar a melhor solução possível para cada um dos problemas identificados durante os três primeiros estágios. As equipes de design produzirão várias versões baratas e reduzidas do produto (ou features específicos encontrados no produto) para investigar as soluções de problemas geradas no estágio anterior.
- Testar – Experimente suas soluções. Designers ou avaliadores testam rigorosamente o produto completo usando as melhores soluções identificadas na fase “Prototipar”. Essa é a fase final do modelo, mas, em um processo iterativo, como o Design Thinking, os resultados gerados são frequentemente usados para redefinir um ou mais problemas adicionais. Os designers podem optar por retornar aos estágios anteriores do processo para fazer iterações, alterações e aprimoramentos adicionais para descartar soluções alternativas.
Importante: as etapas não precisam ser seguidas uma após a outra. É recomendável pular de uma etapa para outra e repetir as etapas, em um esforço para melhor atender à situação com a qual você está trabalhando.
Quando usá-lo: O Design Thinking é ótimo para entender ou resolver problemas aberto em um domínio específico. Não é útil em situações em que o resultado é conhecido principalmente com antecedência. Pode ser útil como uma ferramenta para ajudar a escolher o domínio para ser específico, mas nem sempre é o melhor para atuar nele.
Dica:Saiba tudo sobre o Design Thinking no guia completo que escrevi
2. Google Design Sprints
O Design Sprints, uma metodologia desenvolvida pelo Google a partir da visão de crescimento da cultura UX e da prática de liderança de design em toda a empresa, fornece uma abordagem curta e focada para reunir uma equipe, entender e resolver um problema.
A beleza de um Design Sprint é como ele engloba diferentes frameworks, métodos, etapas e considerações em um pacote de 1-5 dias. A simplicidade da abordagem e as contribuições do Google e da comunidade tornam esse processo acessível e fácil de aplicar ao design de produtos.
As principais etapas de um Google Design Sprint são:
- Planejar: A preparação para o seu Design Sprint é tão importante quanto a execução do próprio Sprint. O período de tempo para o seu Design Sprints será baseado nos objetivos e nas necessidades da equipe. Os sprints podem variar de 1 a 5 dias. Planejar e preparar totalmente garante o melhor uso do tempo. Você deve prever gastar pelo menos um dia inteiro de planejamento para cada dia em que estiver correndo.
- Entender: Na fase “Entender”, você criará uma base de conhecimento compartilhada entre todos os participantes. Usando o método “Lightning Talk“, especialistas em conhecimento de toda a empresa são convidados a articular o espaço do problema dos ângulos de negócios, usuário, concorrente e tecnológico.
- Definir: Na fase “Definir”, a equipe avalia tudo o que aprendeu na fase “Entender” para estabelecer o foco. Isso é feito definindo o contexto específico e os resultados desejados das possíveis soluções. A fase termina escolhendo um foco específico para o seu Sprint, bem como metas, métricas de sucesso e sinais.
- Esboçar: Na fase “Esboçar”, a equipe do Design Sprint gera e compartilha uma ampla gama de idéias. Você começará procurando inspiração, como soluções em espaços alternativos. Então, cada participante do Design Sprint gerará idéias individualmente para consideração. A partir daí, a equipe reduzirá as idéias em grupo a um único esboço de solução bem articulado por pessoa.
- Decidir: Na fase “Decidir”, a equipe finaliza a direção ou o conceito a ser prototipado. Cada participante compartilhará seu esboço da solução e a equipe encontrará consenso em uma única idéia por meio de exercícios de tomada de decisão. A direção final terá como objetivo abordar o foco do Design Sprint.
- Prototipar: Na fase de “Protótipar”, a equipe do Design Sprint trabalhará em conjunto para criar um protótipo do seu conceito. É quando muitas decisões são tomadas em torno do que exatamente o conceito é e inclui. Você terá como objetivo criar um protótipo que seja real o suficiente para validar, e você o fará muito rápido!
- Validar: Na fase “Validar”, a equipe do Design Sprint colocará seu conceito na frente dos usuários – este é o seu momento de verdade! Você coletará feedback dos usuários que interagem com seu protótipo e, se relevante, conduzirá análises de partes interessadas e de viabilidade técnica. Você encerrará seu Sprint com um conceito validado – ou um conceito inválido para melhorar. De qualquer maneira, você progrediu.
A etapa de “planejar” tende a não aparecer nos diagramas por algum motivo, no entanto, o planejamento de um Design Sprint é tão essencial ao processo quanto a execução do Design Sprint.
Quando usá-lo
- No início de uma nova iniciativa para definir seu produto ou criar uma visão compartilhada;
- Quando você precisa de velocidade no seu processo de tomada de decisão;
- Se sua equipe de produto foi bloqueada por um problema.
- Depois de descobrir novos insights, você deseja ação / alavancagem
NÃO use Sprints de design:
- Se você não tem um entendimento suficientemente forte de sua base de clientes;
- Se você tem uma direção clara do produto e precisa apenas de tempo de design;
- Se você não tem participação de liderança.
No entanto, para fornecer alguma perspectiva, eu já vi exemplos contrários a essas afirmações, com o Design Sprints ajudando a entender uma base de clientes e ganhando participação de liderança. Também vi situações em que a tentativa de executar um processo como o Design Sprint diminui o tempo de respostas em situações críticas e infezlimente nesse caso você tem que aceitar e seguir em frente (geralmente um gerente / lider precisa tomar algumas escolhas difíceis e motivar as pessoas).
Por fim, outra área em que o Design Sprints não é útil é como um processo para escolher em que direção seguir em nível estrategico macro (por exemplo, em que mercado queremos estar?), Embora possa ser uma ferramenta util em um nível mais operacional.
Dica: Saiba tudo sobre o Design Sprint e como aplica-lo no guia completo.
3. Processo de Design do Diamante Duplo (Double Diamond)
O processo “Diamante Duplo” mapeia os estágios divergentes e convergentes de um processo de design. Criado pelo British Design Council, ele descreve modos de pensar que os designers usam, capturando os pontos em comum do processo criativo entre as disciplinas e o divide em quatro fases distintas:
- Descobrir: Nesse estágio, você deve pensar de maneira ampla, manter a mente aberta e começar a desenvolver insights sobre o que você acha que é o problema, até um prazo final. Você pode colaborar com seus colegas nisso, pesquisar sobre usuários ou analisar seus dados. O objetivo geral é reunir idéias sobre o seu problema, mesmo que isso signifique rasgar o resumo.
- Definir: Seu objetivo aqui é criar um “resumo criativo claro que enquadre o desafio fundamental”. Aqui, você usa o pensamento convergente para restringir as melhores idéias, ver o que é viável e realista. Escreva isso e defina um resumo claro e acionável. A partir daqui, você identifica o problema certo. Convém confirmar isso com seu cliente, equipe ou gerente para garantir que você esteja no caminho certo. Caso contrário, falhe rapidamente e comece novamente. Você precisa ter identificado o problema certo
- Desenvolver: Com seu novo resumo e o problema certo em mente, você pode empregar pensamentos divergentes para começar a desenvolver sua solução. Isso pode envolver a prova de conceito, onde você testa suas idéias e começa a experimentar. Seu objetivo final aqui é descobrir a melhor maneira de fazer as coisas.
- Entregar: É aqui que você cria a solução que resolve o problema. Empregando um pensamento convergente, você reduz suas idéias e constrói sua solução uma vez, de maneira adequada e rápida. Concentre-se em executar a solução certa com margem mínima para erros.
A imagem visual de dois diamantes um ao lado do outro torna fácil de entender o processo. O visual dos diamantes também mostra como as idéias precisam passar por um pensamento divergente (a abertura de um diamante) e depois serem refinadas pelo pensamento convergente (o fechamento de um diamante).
A metáfora visual dos diamantes ajuda as equipes a aplicar as ferramentas e técnicas apropriadas para a parte do diamante em que seu trabalho é realizado.
Lembrando que este não é um processo linear, como mostram as setas no diagrama. Muitas vezes você aprende algo sobre os problemas subjacentes que podem enviá-los de volta ao início. Fazer e testar idéias em estágio inicial pode fazer parte da descoberta. E em um mundo digital e em constante mudança, nenhuma idéia está ‘terminada’.
Quando usá-lo:
- Quando é necessário um processo de execução mais longo e / ou uma ampla pesquisa de idéias.
NÃO use o Double Diamond
- Não é particularmente útil quando você está lidando com uma situação em que o resultado é conhecido principalmente e você só precisa seguir em frente.
Dica: Leia o guia completo do Double Diamond
O relacionamento do Agile, Lean, priorização
Os processos de design de produto listados acima podem ser incorporados às equipes ágeis e às que seguem os principios do Lean. Você também pode aplicar estruturas de priorização de produtos com base no que aprendeu ou no que planeja fazer.
Usando algum senso comum, você pode praticamente combinar isso exatamente com o que você precisa para a situação em questão. Se houver conflito, etapas desnecessárias ou algo assim, basta removê-lo e usar o que você precisa. Lembrando que o que foi listado aqui são frameworks, e como todo bom framework, você DEVE adapta-lo a sua realidade.
Como ultima dica, a principal lição que aprendi estudando e aplicando todos esses processos de design no meu dia a dia é: esses processo tem muita coisas coisa em comum, sendo que a principal é que você deve escutar seu cliente, entender sua dor, e criar um produto que os atenda. Agora, qual processo escolher? Eu particularmente prefiro um processo mais curto e direto, mas a escolha ideal depende do seu momento (e do seu time), e em qual estágio do produto se encontram.